Subvertendo a máxima que nos diz que “o que é de todos não é de ninguém”, os coletivos de arte surgem como contraponto e procuram resgatar a importância da comunidade

Aristóteles, filósofo grego, já havia alertado: o todo é maior que a soma simples das suas partes. Mas não podemos levar esse pensamento ao pé da letra, trata-se da famosa sinergia, ou seja, a ação conjunta de vários elementos ou de várias partes que pretende obter um resultado melhor ou maior do que a soma das partes. Afinal, várias cabeças pensam melhor do que uma e os coletivos de arte são um grande exemplo de como isso realmente funciona.

São associações, em grande parte multidisciplinares, que utilizam a expertise de cada participante e conseguem resultados que de outra maneira seria muito difícil, mas neste caso a mais-valia não fica restrita ao “dono”, até porque não existe essa figura, ela é parte integrante da obra e quem lucra, na verdade, é o público que tem acesso a projetos criativos que aliam técnica, pensamento crítico, ações sociais e, é claro, muita arte. Confira a seguir alguns coletivos de arte com trabalhos bem interessantes.

Coletivo Transverso

É bem provável que você já tenha visto alguma intervenção do Coletivo Transverso por aí. De acordo com informações oficiais, o grupo foi criado em janeiro de 2011 e desde então trabalha com arte urbana e poesia, a partir de técnicas como o estêncil, o lambe-lambe, o grafite, a performance, a criação de monumentos, entre outras. Visa proporcionar de forma gratuita um olhar poético ao cotidiano dos passantes por meio de intervenções no espaço público. Buscam a construção de uma identidade estética que alie plasticidade e conteúdo, inspirada pelo haikai oriental e pelo poema-objeto concretista. Os poemas e desenhos são autorais, e todo o material das intervenções é idealizado e produzido num processo colaborativo nas reuniões do coletivo.

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Coletivo Transverso – Instagram

Coletivo Bijari

O Bijari é um centro de criação que desenvolve projetos na convergência entre arte, design e tecnologia. Para essa missão foi reunido um grupo multidisciplinar composto por artistas, video-makers, arquitetos, cenógrafos, designers e estrategistas. Foram os pioneiros na exploração de linguagens contemporâneas como live-images (VJ), o vídeo mapping e o vídeo 360 no Brasil. Paralelamente, a pesquisa desenvolvida em intervenção urbana e arte pública, inspirou a criação de territórios políticos e poéticos que reaproximaram a relação da esfera pública com o sistema da arte e para além dele.

SHN

O Coletivo SHN foi formado em 1998, em Americana/SP. Influenciados pelo legado punk “faça você mesmo” e multidisciplinar, o grupo reúne artistas com atuações diversas como artes gráficas, arquitetura, vídeo e grandes pinturas. A serigrafia foi o ponto de partida gráfico para a pesquisa de mídias apresentada pelo coletivo, que trabalha com ícones universais, (re)significando o conceito de logotipo e marca em uma abordagem bem-humorada e crítica. A utilização de traços largos, cores chapadas e apropriação e transformação de imagens, assim como a transposição para diversas mídias, atravessam a discussão proposta pelo coletivo.

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SHN: pintura mural 14x8m com ícones simulando combo de adesivos – Galeria 1212, Campinas – imagem do site

Coletivo Tupinambá

O Coletivo Tupinambá, do Rio de Janeiro, – eles deixam bem claro que não respondem pelo povo Tupinambá, o nome é uma homenagem a eles – promovem tráfico de informações e mídiativismo anti entulho-autoritário. Recusam veementemente o título de “mídia independente”, o coletivo é horizontal e anarquista, é composto por membros que possuem outras profissões ligadas ao audiovisual deste modo não é financiado por nenhuma organização, partido político, entidade, instituição, sindicato, não aceita doações e não representa os interesses de terceiros que não sejam os DO POVO.

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Coletivo Tupinambá – Facebook

Coletiva Papel Mulher

Conforme matéria da revista Acrobata, a Papel Mulher é uma coletiva feminista que tem como objetivo divulgar a escrita de mulheres através da intervenção urbana feita com colagem de lambe-lambe. A coletiva foi idealizada em janeiro de 2021 pela cearense Alexandra Maia, que cansada de ver a poesia restrita ao mundo acadêmico e formal, pensou que os lambes seriam uma forma de colocar a poesia na rua, na vida das pessoas que passam sabe-se lá para onde. A partir do abraço da ideia pela paraibana Jessyka Ribeiro e a carioca Julyana Mattos a coletiva se tornou real e foi fundada em fevereiro de 2021. Em menos de dois meses atingiu cerca de 40 mulheres espalhadas por todo o país.

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Coletiva Papel Mulher – Instagram

Coletivo Poro

De acordo com informações do site, formado pela dupla de artistas Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada!, o Poro também é conhecido como Grupo Poro ou Coletivo Poro. Atua desde 2002 com trabalhos que buscam apontar sutilezas, criar imagens poéticas, trazer à tona aspectos da cidade que se tornam invisíveis pela vida acelerada nos grandes centros urbanos, estabelecer discussões sobre os problemas das cidades, refletir sobre as possibilidades de relação entre os trabalhos em espaço público e os espaços “institucionais”, lançar mão de meios de comunicação popular para realizar trabalhos, reivindicar a cidade como espaço para a arte. Com a realização de intervenções urbanas e ações efêmeras, o Poro procura levantar questões sobre os problemas das cidades através de uma ocupação poética dos espaços.

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Coletivo Poro – site

Grupo Mexa

O MEXA foi criado em 2015 após episódios de violência em alguns centros de acolhida em São Paulo. Desde a sua gênese, o coletivo explora e debate as distâncias e proximidades entre a rua e o museu, a vida e a arte, a política e a estética, a partir de estratégias de improviso e criação coletiva. O grupo participou de mostras como a 14ª VERBO, 2018, na Galeria Vermelho; a 11ª Bienal Sesc de Dança, em Campinas, em 2019 e em São Paulo, em 2021; as exposições Somos muit+s, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e Começo de século, na Galeria Jaqueline Martins, no mesmo ano; em 2020 se apresentaram na 6ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MIT-SP) e integraram a coletiva Histórias da Dança, no MASP. Participou, ainda, do Festival Panorama Raft, o festival de 8 anos da Mamba Negra, em 2021 e compõe o programa do Transform Festival, de 2022 e 2023. Os integrantes do grupo também atuam como artistas residentes na Casa do Povo desde 2016. Em 2019, recebeu o Prêmio Denilto Gomes de Dança na categoria Olhares para estéticas negras e de gênero.

Micrópolis

Micrópolis é um grupo de arquitetos que atua nos cruzamentos entre espaço, design e educação. Interessado pelas relações sociais que se dão no cotidiano da cidade, o coletivo se dedica a projetos e ações em pequena escala, capazes de fazer emergir particularidades e imaginários locais que apontem para novas possibilidades de envolvimento e transformação coletiva do espaço.

https://vimeo.com/675011627

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Micrópolis – site

Espaço Cultural Armazém – Coletivo Elza

O Espaço Cultural Armazém surge inicialmente a partir do desejo de abrigar o acervo do Projeto Armazém tornando-se em seguida um local para cursos, oficinas e exposições. Neste espaço independente, financiado coletivamente, sem fins lucrativos, criado em agosto de 2016 formou-se um grupo de mulheres agregadoras, propositoras de ações e ativismos, intitulando-se Coletivo Elza. O Coletivo Elza é formado por mulheres de áreas plurais: artistas visuais, gestoras, educadoras, produtoras, doulas, psicólogas, musicistas, bacharel em biblioteconomia e propositoras que compartilham o desejo comum de contribuir para a ampliação do acesso da comunidade à cultura, de dar visibilidade a produções artísticas, especialmente a de mulheres e jovens artistas, e de potencializar ações com foco no fortalecimento, empoderamento e saúde das mulheres, crianças e famílias, através de estratégias coletivas pertinentes para o cenário atual. O coletivo, com natureza fluida, já foi composto por diversas mulheres, algumas permanecem desde a configuração original e outras juntaram-se ao longo da história.

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Espaço Armazém | Coletivo Elza – site

Ocupeacidade

O Ocupeacidade iniciou suas atividades em 2006 com a proposta de unir pessoas interessadas em produzir coletivamente ações artísticas nos diversos espaços da cidade. Ao longo dos anos foi somando outras práticas e técnicas ao seu percurso e atualmente se dedica também ao projeto zerocentos publicações, uma editora voltada para publicações artesanais e independentes, onde são utilizadas ferramentas de impressão, reprodução de imagens e recursos gráficos artesanais. A produção do grupo é feita no espaço do Parquinho Gráfico junto das Edições Aurora. Oficinas e atividades abertas ao público são divulgadas na agenda.

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Ocupeacidade – Facebook

Subvertendo a máxima que nos diz que “o que é de todos não é de ninguém”, os coletivos de arte surgem como contraponto e procuram resgatar a importância da comunidade. Como um grande caldo onde os egos são dissolvidos, cada ingrediente é único e indispensável para que a obra seja concretizada a contento. Provando que o todo pode e deve ser maior que a soma das partes, os coletivos de arte urbana – com a utilização de muita estética, crítica, ironia e /ou humor – fazem as suas intervenções pelas ruas e conclamam a sociedade a (re)pensar a cidade e a si mesma.

Nota: todas as descrições/imagens foram retiradas dos sites/redes oficiais.