A gravura em metal ocupa espaço singular no cenário da arte contemporânea preservando características que são peculiares ao seu modo de execução, como por exemplo, a linha negra, densa e aveludada, que confere grande apreço às estampas impressas neste procedimento. Artistas contemporâneos, amantes das artes gráficas como Leandro Serpa trabalham com a gravura em metal estudando os procedimentos tradicionais e criando novos procedimentos como veremos a seguir.

A gravura em metal, pensada para a reprodução de estampas, tem sua origem com os ourives europeus do século XV que desenvolveram a técnica do buril a traço. Logo nos seus primórdios grandes artistas destacaram-se no estudo da gravura em metal, caso de Albrecht Durer (1471 – 1528), filho de ourives, que possuía extraordinário domínio do buril, Martin Schongauer (1448 – 1491), Lucas Van Leyden (1494 – 1533), Antonio Pollaiuolo (1433 – 1498), Andrea Mantegna (1471 – 1506), entre outros.

A gravura em metal possuí ampla e considerável quantidade de procedimentos de gravação e impressão que são fruto de pesquisas de artistas, artesãos, estudiosos, professores que empreenderam avanços e transformações no modo de realização de estampas em gravura metal. Muitas das técnicas de gravura em metal continuam a serem ensinadas em Universidades e ateliers livres em todo o mundo e com pequenas alterações, alguns procedimentos mantem-se tal e qual quando a técnica foi criada.
A gravura em metal pode ser dividida em dois grupos: a gravura direta; na qual a gravação é realizada diretamente com uma ferramenta de metal sobre a chapa, e gravura indireta que exige a aplicação de algum material para gravar a placa, caso do verniz para a água-forte. A técnica do buril, ponta seca e maneira negra são formas de gravação direta enquanto que a água-forte, água-tinta, água-tinta de açúcar, a gravura a sal, o verniz mole, são alguns exemplos de gravura indireta.
Buril.
A técnica do buril tem seu nome em função da ferramenta usada na gravação, o buril. As estampas das gravuras desta técnica apresentam linhas densas, porém sem marcas das rebarbas. O manejo do buril permite ao artista controle e regularidade do traço e, por conseguinte do corte.

Pedro Seman Negra Fulô

Gravura Buril Pedro Seman Negra Fulô

Ponta Seca.
A ponta seca recebe seu nome em função da ferramenta utilizada, a ponta seca de gravar. É o método que mais se aproxima do gesto do desenho, dada a liberdade que o artista tem para conduzir a ferramenta. O ato de riscar a chapa com pontas metálicas resulta em estampas com linhas bastantes aveludas por causa das rebarbas que são levantadas durante a gravação.

Anna Letycia Quadros - Pionta sêca

Anna Letycia Quadros – Pionta sêca

Maneira negra.
A maneira negra, também chamada meia tinta ou mezzotint, tem sua origem na necessidade de gravadores representarem variações tonais de pinturas nas chapas. Sua invenção é atribuída à Ludwig Von Siegen (1609 – 1680), por volta de 1642. Seu método consiste em criar tons negros com o instrumento ‘berceau’, (do francês: berço), e criar gradações tonais do negro ao branco com as ferramentas raspador e brunidor. David Lucas (1802 – 1881), gravador inglês, realizou belas reproduções de obras do pintor John Constable (1776 – 1837), com esta técnica.

Feres Khoury Maneira negra e ponta seca

Feres Khoury Maneira negra e ponta seca

Dentre as técnicas de gravação indireta destaco a água-forte, (do latim aqua-fortis), assim chamado por causa do ácido nítrico usado nesta técnica. O procedimento consiste em proteger a chapa, geralmente cobre, latão ou zinco, com uma camada de verniz feito com o aquecimento de cera, betume da judéia e solvente, que aplicada sobre a chapa cria uma camada protetora. Para a retirada do verniz das áreas que se pretende gravar com ácido, é utilizado uma ponta de metal de extremidade, romba ou arredonda, para evitar que a matriz seja riscada. Em seguida a chapa é levada para o banho do ácido onde acontece a gravação da matriz.
Rembrandt H. Van Rijn (1606 – 1669), é considerado um dos maiores água-fortistas de todos os tempos, mas há outros artistas de grande relevância que devem ser citados; caso de Giovanni Battista Piranesi (1720 – 1778), Giovanni Battista Tiepolo (1696 – 1770), Giovanni Antonio Canal, vulgo Il Canaletto (1697 – 1768), Giorgio Morandi (1890 – 1964), Pablo Picasso (1881 – 1973), entre outros.

Gravura Evandro Carlos Jardim

Gravura Evandro Carlos Jardim – água forte

A água-tinta é um método que permite a realização de gradações tonais em semelhança com as aguadas de nanquin ou sépia. Seu procedimento consiste no polvilhamento de uma resina de pinho, conhecida como breu, que após aquecida fixa-se sobrea chapa ao resfriar. Os sucessivos banhos de ácido criam as gradações tonais pela corrosão das áreas que contornam os pequenos grãos de breu grudados à chapa.
A água-tinta é geralmente usada acompanhada com a água-forte e tem em Francisco de Goya (1746 – 1828) seu grande mestre. Na série ‘Os Caprichos’, Goya levou ao extremo as possibilidades da água-tinta gravando chapas apenas com esta técnica criando áreas tonais densas e expressivas, verdadeiras obras primas.

Gravura água tinta Miró

Gravura água tinta Miró

Atualmente podemos verificar que muitos gravadores contemporâneos usam as técnicas e os materiais conforme passados pela tradição, mas subvertem os processos de gravação e ou impressão. Este é o caso de Leandro Serpa, artista que trabalha com a gravura a mais de uma década. Em alguns processos Leandro, utiliza diesel, percloreto, sal e outros materiais que são agressivos ao papel, ou ainda vinagre com chapas de metal oxidadas, imersões em pigmentos e tingidores que são mais brandos ao suporte. O artista trabalha no limite entre a permanência e a dissolução, a vida e a morte, da matéria.

Ferro Velho - Leandro Serpa

Ferro Velho – Leandro Serpa

Alguns dos procedimentos e obras do artista tem aguçado a curiosidade de críticos, e do público, quando exposto. Este é o caso da série ‘Multiverso’, lançada pelo artista em 2016, mas que provem de um procedimento desenvolvido por Leandro desde 2007. É o que o artista chama de monotipia sobre chapa de metal.

Nos meios acadêmicos, em artigos, oficinas e nas aulas que ministra, o artista tem apresentado seu procedimento e as pesquisas que tem feito recentemente e agora resolveu dispor para todos seus segredos de atelier.

Procedimento de gravação

Procedimento de gravação

A pesquisa com a monotipia sobre chapa de metal ou linóleo, teve seu início em 2007 no atelier de gravura da UDESC sob coordenação de Sandra Favero e Diego Rayck quando o então estudante de artes plásticas, compreendendo as especificidades da gravura, como o potencial de marca e reprodutibilidade, passa a adicionar solvente ao verniz para a água-forte com isso gera imagens de conteúdo intenso e aleatório, de acordo com o movimento do verniz e solvente.
O método elaborado pelo artista consiste em aplicar tinta gráfica ou verniz sobre chapas de metal ou até mesmo placas de linóleo e em seguida aplicar solvente que dilui e dispersa a tinta. Com a tinta em dissolução o artista deita folhas de papel sobre a chapa e quando ergue o papel está impresso sobre suas fibras um monotipo.

PROCEDIMENTO 2015 (1)

Em seu processo o artista utiliza matrizes convencionais de cobre, latão e alumínio e também linóleos, mas destaca-se o uso de matrizes ‘ordinárias’, recolhidas em galpões abandonados, velhas fábricas, mecânicas e também em ferros-velhos. Exemplo desta pesquisa, com matrizes coletadas, é a série de gravuras realizadas em 2008 que circulou pelas unidades SESC do Estado de Santa Catarina entre os anos de 2012 a 2017 inseridas na exposição coletiva Gravuras: Vestígios Singulares de curadoria de Sandra Favero. Obras da mesma série integraram também o projeto Máquina do Tempo, premiado em 2015 no projeto Espaços Visuais Rede SESC de Galerias, e exposto nas cidades de São Bento do Sul/SC e Jaraguá do Sul/SC.

MONOTIPIA 2009 (4)

Em 2015, o artista realizou nova série com esta técnica da monotipia sobre metal partindo de chapas de aço 1020 que Leandro havia coberto com verniz em 2009. As obras desta série e também obras inéditas realizadas em 2009 podem ser visualizadas e adquiridas na Galeria de Gravura, no link: http://www.gravura.art.br/artistas/leandro-serpa-2190.html
No ano de 2016 estudando o conceito cientifico de tempo/espaço, conforme Stephen Hawking (1942 -), e Leonard Mlodinow (1954 -), o artista lança a série Multiverso. Nesta série Leandro leva ao extremo o seu procedimento de monotipia sobre chapas com materiais que coletou em mecânicas de bicicletas, objeto de seu interesse à época. Para a realização da série o artista desenvolveu a técnica da monotipia sobreposta, ou seja, o artista realizava sobre o mesmo papel/estampa mais de uma monotipia alterando cores e marcas, justapondo as dimensões de tempo e espaço no mesmo suporte. O artista utilizou ainda em algumas estampas da serie o método de imersão em pigmento e tingidores que será tratado em outra matéria dedicada a este procedimento.

MONOTIPIA 2008 (5) cópia

Como pode ser observado no procedimento de Leandro Serpa, o universo de investigação da gravura contemporânea é vasto e rico de aberturas e desdobramentos.
Você poderá saber mais sobre o artista acessando os links anexos a esta matéria ou visitando a Galeria de Gravura ou diretamente com o artista em sua página particular no facebook.

MONOTIPIA 2008 (4) cópia

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MONOTIPIA 2007 cópia MONOTIPIA 2016 (2) cópia

Fiquem atentos também às possibilidades da gravura metal e suas técnicas tradicionais que são importantes meios para o estudante iniciar na gravura e fomentar sua pesquisa em arte contemporânea.

Leandro Serpa.
Galeria de Gravura: http://www.gravura.art.br/artistas/leandro-serpa-2190.html
Site: http://www.leandroserpa.com.br/
Site: http://www.fanaticos.art.br/
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