Albano Fernandes Afonso (São Paulo SP 1964). Artista visual. Estuda na Faculdade de Arte Alcântara Machado – Faam, em Santos, São Paulo. Em 1994 realiza sua primeira exposição individual, no Centro Cultural São Paulo – CCSP, na capital paulista. No mesmo ano é premiado no 21º Salão de Arte Contemporânea de Santo André e é contemplado com o prêmio aquisição do Museu de Arte Contemporânea de Santo André. Em 2006 a editora Dardo, de Santiago de Compostela, Espanha, lança um livro sobre o artista.
Comentário crítico
Impossível evitar a sensação de corrosão suscitada pela série Viagem à Selva Tropical, de Albano Afonso, exposta em 1999 no Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP. Seu procedimento consiste em perfurar repetidamente reproduções em fotografia digital de pinturas da autoria de mestres como Rugendas e Thomas Gainsborough, espalhando círculos vazados pela superfície da obra, revelando assim partes de uma outra imagem posta num segundo plano. O artista não lida, portanto, com nenhum material corrosivo ou abrasivo, porém a certa distância essas superfícies transmitem algo de desgastado, enferrujado, embolorado até.
Essa falsa aparência de decomposição desencadeia uma ambiguidade de sentidos: entre uma crítica à história da arte e uma nostalgia em relação a ela. Ao mesmo tempo, opera uma inversão em um dos pares conceituais fundamentais da pintura – profundidade e superfície. Afonso escolhe reproduzir obras pictóricas que têm como preocupação central a reprodução da sensação de profundidade, via recursos de perspectiva.
Ora, ao interferir sobre a imagem dessas obras, perfurando-as, Afonso impõe ao olhar do espectador a superfície plana da obra, logrando evidenciar o que antes era negado, fazendo com que a fonte de emanação de sentidos da obra transfira-se para a superfície concreta, abandonando a intenção ilusionista.