Judith Lauand (Pontal, São Paulo, 1922). Pintora e gravadora. Nome importante do movimento concretista, é reconhecida por suas obras com formas geométricas precisas, pelo rigor matemático de suas composições constituídas de linhas, planos e vetores, e mesclada com cores contrastantes. Ao longo de sua carreira, experimenta técnicas diferentes, como gravura, desenhos, guaches, colagens, xilogravuras, tapeçarias, bordados e esculturas.

Em 1950, forma-se na Escola de Belas-Artes de Araraquara, no interior de São Paulo, onde aprende pintura. Nessa época, Lauand pinta naturezas-mortas, quadros mais figurativos e retratos. Muda-se para São Paulo em 1952 e cursa aulas de gravura, época na qual começa a experimentar essa técnica e caminhar para a abstração em suas obras.

Sua aproximação com as vanguardas artísticas se dá em 1953, ano em que trabalha como monitora da 2ª Bienal de São Paulo e entra em contato com obras de artistas como o suíço Paul Klee (1879-1940), nome importante do movimento expressionista, o modernista Piet Mondrian (1872-1944) e o escultor e pintor estadunidense famoso por seus móbiles Alexander Calder (1898-1976).

Em 1955, ingressa no Grupo Ruptura e é conhecida como a única mulher a ter feito parte oficialmente do grupo, integrado por Waldemar Cordeiro (1925-1973)Geraldo de Barros (1923-1998) e Luiz Sacilotto (1924-2003). O convívio com os concretistas, tanto nas artes visuais, quanto na literatura, incentiva Lauand em sua busca por formas geométricas, com precisão matemática e reflexão sobre a composição de linhas, vetores e formas.

A obra Do Círculo ao Oval (1958) representa o rigor na estrutura das linhas, que partem de um ponto e vão rotacionando e formando outras figuras geométricas. O interior da imagem se assemelha a um círculo que irradia para uma figura oval quando vista em sua completude. A cor de fundo, um amarelo vibrante, corrobora o cuidado da artista na escolha de cores puras e vivas que contrastem com a composição geométrica.

A artista tem reconhecimento nacional e internacional, participando de importantes exposições coletivas, como a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta (1956), realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP); a Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa (1959-1960), que passa por cidades como Munique, Lisboa, Madri e Paris; e Judith Lauand: Abstrações do Concretismo Brasileiro (2017), na galeria Driscoll Babcock, em Nova York, evidenciando sua constante atuação no sistema das artes.

Na década de 1960, Lauand passa por uma fase ligada à pop art e adiciona outros elementos às suas telas, como tachinhas, tecidos, alfinetes, barbantes e clipes, e insere palavras, também por influência da poesia concreta com que tem contato na época, como a de Décio Pignatari (1927-2012). O trabalho Te Amor (1969) é um exemplo dessa fase pop e traz à tela os rostos de um homem e de uma mulher, pintados com cores fortes e contrastantes, como o amarelo, o bordô e o azul escuro. No quadro, observamos que a mulher está com o rosto virado e o homem, que está à sua frente, parece que a pressiona contra a parede. A cena parece simular uma tentativa de beijo entre um casal, e na parte inferior da tela estão as palavras “Te” e abaixo “A Mor”. Podemos ler tal qual está no título “Te Amor” ou, se invertermos, podemos ler “A Mor Te”, mostrando como a artista brinca com as palavras e situações.

Funda a Galeria Novas Tendências, em São Paulo, com os artistas Hermelindo Fiaminghi (1920-2004) e Luiz Sacilotto, como um espaço para expor os artistas concretos, inaugurada com a exposição Coletiva Inaugural 1 (1963), que tem por intenção apresentar novos artistas ao mercado de arte.

Há em suas obras uma formulação matemática com desenhos que parecem abertos ou fechados, como o trabalho Quatro Grupos de Elementos (1959), que também denota uma exploração cromática para formar a imagem e garantir uma ilusão ótica. Na tela, observamos duas linhas paralelas, nas cores preta e azul-escura, atravessadas por outras linhas que se cruzam e, dependendo da observação, vemos um losango ou um objeto tridimensional. Lauand experimenta, com essas formas, técnicas para a abstração.

Judith Lauand tem intensa atividade desde o início de sua carreira, na época com pinturas mais figurativas e acadêmicas, mas firmando sua produção com as características da arte concretista. Experimenta a arte pop, porém, segue trabalhando com abstrações em seus desenhos. Notável pelo rigor matemático e pela precisão das formas, Judith Lauand evidencia em sua produção composições de linhas e vetores que denotam movimento, trabalhando também com escolhas cromáticas que conferem vivacidade às obras.

Judith Lauand: experiências

MAM – São Paulo
Curadoria: celso Fioravante
Sala Paulo Figueiredo

Judith Lauand é bem mais que concreta. É também experimental, pop, política, abstrata geométrica, mas, sobretudo, inquieta, como é possível observar nas mais de cem obras desta mostra antológica, Judith Lauand: experiências.

São pinturas em óleo, acrílica, esmalte e têmpera, desenhos, guaches, colagens, xilogravuras, tapeçarias, bordados e esculturas produzidos entre 1954 (ano de sua adesão ao concretismo) e os anos 1970, quando a artista passa a produzir uma pintura ainda geométrica, porém mais solta, em que a cor se sobrepõe ao desenho.

Nada mais justo que esta homenagem aconteça no MAM, estreitando um relacionamento que já dura seis décadas. Tudo começou em 1952, quando o MAM, ainda instalado na rua Sete de Abril, abrigou a mostra Jovens pintores da Escola de Belas-Artes de Araraquara. Era a estreia de Lauand na capital paulista.

A artista também esteve presente em exposições históricas no museu, como a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta (1956), que marcou o surgimento oficial da poesia concreta no Brasil, e a 1ª edição do Panorama da Arte Atual Brasileira (1969), evento criado pela então diretora Diná Lopes Coelho (1912-2003) como estratégia para a ampliação e renovação do acervo da instituição por meio de prêmios aquisição e doações. Naquele ano, a artista colaborou com a iniciativa, doando ao museu a tela Stop the war (1969).

Depois de um hiato de trinta anos, Lauand voltou a figurar em mostras importantes no museu, como Arte construtiva no Brasil: coleção Adolpho Leirner (1998), Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto, coleção Patricia Cisneros (2002) e Concreta’56: a raiz da forma (2006). Em 2008, foi convidada a participar do Clube de Colecionadores de Gravura do MAM, para o qual autorizou a reimpressão de uma xilogravura dos anos 1950, cuja matriz doou ao acervo do museu.

Judith Lauand retorna agora na maior exposição já realizada sobre sua carreira. Mais que uma retrospectiva, esta é uma mostra prospectiva, pois indica as muitas possibilidades que uma vida dedicada à arte pode oferecer.

http://www.gravura.art.br/judith-laund/judith-laund.html