Cada um tem uma maneira única de apreciar um objeto artístico. Profissionais como galeristas, compradores, colecionadores, curadores e críticos têm um olhar amplo sobre o objeto e levam em conta muitos aspectos técnicos e o mercado. A obra de arte também é um investimento.

Um bom caminho inicial para desenvolvermos a habilidade técnica da avaliação de uma obra de arte pode ser observar com bastante atenção todos os seus detalhes. Algo bem importante em uma pintura, desenho ou aquarela é saber se tem algum ponto da obra que foi retrabalhado, redesenhado ou refeito. Isso pode trazer uma certa desvalorização para a obra.

A linguagem visual também deve ser levada em consideração, e o “ideal” é traçar paralelos em relação à contemporaneidade. Atualmente, a linguagem que a obra segue pode ajudar a definir sua valorização ou mesmo desvalorização.

Avaliar pensando nos insumos utilizados na obra pode ser bem difícil, porém alguns detalhes são importantes.

É possível verificar se a tinta está firme na obra. Por exemplo, se for pintura a óleo, ela deve estar densa. Existem quadros de 500 anos cujas tintas ainda não secaram – por isso, se pensarmos em pintura a óleo produzida em um bom canvas, ela não deve conter falhas ou desgastes.

Se a obra foi produzida em papel, é bem importante ficar de olho na sua qualidade. Tente descobrir em qual tipo ela foi feita. Existem alguns no mercado que têm bastante qualidade, como o Fabrian, o Hahnemühle e o Canson. Eles são líderes neste segmento.

Se for uma fotografia Fine Art, o primeiro item a se verificar é se foi impressa em papel Fine Art (específico para essa técnica), pois contém uma camada de couting para receber a tinta da impressora Fine Art.

Encontramos muitas obras no mercado em papel que não são adequadas para determinada técnica. Um objeto que era para durar séculos, nesse sentido, vai durar apenas alguns anos. A característica da obra em Fine Art é ter um aspecto vivo, um brilho forte, mesmo que seja em papel fosco. Então, quando a impressão tem um aspecto aguado, é porque foi feita em um papel, digamos, errado.

Nesse aspecto, os materiais experimentais às vezes podem ser um problema, já que a longevidade é, de maneira geral, bastante importante para a obra de arte. Os compradores relutam em adquirir obras que podem deteriorar facilmente. São bem poucos os que compram uma obra efêmera.

Uma vez definidas essas questões, analisa-se a estrutura na qual ela está montada. É comum a obra ter uma estrutura que pode ser uma moldura, um chassi ou ter base de ferro. O tipo de suporte das obras varia bastante.

Neste momento, é preciso bastante atenção. Se a obra tem suporte de papel e está emoldurada, perde valor no mercado, pois já não é considerada uma obra nova. Nesse sentido, uma obra de arte em papel pode ter 30 anos e ser considerada nova se nunca foi emoldurada.

Se a obra está emoldurada, é importante descobrir se ela está colada no fundo do quadro (foam board) ou não: se estiver colada, é uma obra sem valor agregado. Se a obra está presa no suporte corretamente, ainda tem o seu valor-base.

Já para obras em canvas, é importante analisar como o tecido está grampeado no chassi. Quadros mal montados tendem a perder bastante no valor final.

E, além da montagem, é importante verificar se a estrutura ou a própria obra não está danificada, com rasgos, manchas, rachaduras (craquelada), além de uma infinidade de problemas que uma estrutura de arte pode ter.

Para quadros com suporte de madeira ou chassi, é preciso verificar se há infestação de cupim. Algo bem comum em quadros antigos, inclusive. Normalmente todos esses itens podem ser visualizados a olho nu.

Estruturas com problemas tendem a depreciar pouco a obra, porque elas podem ser trocadas, a não ser que o problema seja na própria obra. Agora, se for na estrutura, é menos complicado.

Depois de procurar por problemas mais brutos, é hora de uma análise minuciosa em relação a manchas e fungos. Uma lupa pode ajudar bastante neste momento. O ambiente deve estar bem iluminado para essa análise técnica.

Manchas desvalorizam a obra: a depender do tipo de fungo ou de mancha, o valor deprecia bastante. A maioria das manchas, principalmente as de origem natural, no entanto, são removíveis. Os restauradores conseguem fazer uma limpeza completa da obra. Assim, a obra bem restaurada volta a ter o seu valor original.

Com a a análise da obra finalizada, é hora de pesquisar mais sobre a peça, tentar descobrir se esteve em alguma exposição importante, em alguma galeria ou museu de renome ou se pertenceu a algum colecionador.

Rastrear a história da obra é fundamental para termos uma segurança maior em relação ao seu valor. Muitas vezes os próprios documentos de compra e venda já dizem muito sobre ele.

Dentro desta etapa de pesquisa, buscamos os valores pelos quais obras do mesmo artista costumam ser vendidas. Quando encontramos várias delas sendo comercializadas, tentamos fazer um cálculo-base de quanto é o seu valor por metro quadrado e aplicar esse valor na obra que estamos avaliando.

E, pra finalizar, partirmos para um estudo histórico do artista, pois ele influencia diretamente na valorização da sua arte.

O mercado gosta de artistas comprometidos e que estão em longas jornadas profissionais. Existe uma tendência de quanto mais experiente o artista, mais valorizada será sua obra.

Quanto aos menos experientes, suas obras podem não ter um valor alto no início da sua jornada, porém são artistas com potencial de valorização maior que os consagrados.

Resumindo, para uma boa avaliação, sempre leve em conta os aspectos físicos que estão diretamente relacionados à obra e as questões mercadológicas, como sua história e o posicionamento do artista no mercado.