Cada vez mais artistas têm optado por diversificar a sua produção de maneira a atender a um público ávido por colecionáveis.

Desde a antiguidade, os templos funcionavam como lugar de adoração, mas também onde objetos e presentes ficavam expostos para visitação. Famílias abastadas tinham o costume de reunir obras de arte e as exibiam nos jardins e casas para seus convidados. Foi a partir do Renascimento que surgiu a palavra museu, para designar a reunião, preservação e exibição de obras de arte e objetos de coleção em geral. O colecionismo sempre esteve presente nas atividades humanas.

O museu mais antigo de que se tem notícia é o Ennigaldi-Nanna, de 530ac. Ele ficava localizado na Mesopotâmia (atual Iraque) e foi descoberto pelo arqueólogo Leonard Wooley em 1925. Acredita-se que a biblioteca mais antiga do mundo, e por isso a mais famosa, seja a Biblioteca de Alexandria, ou Biblioteca Real de Alexandria, no Egito. Seu acervo chegava a setecentos mil volumes, dentre os quais quarenta a sessenta mil manuscritos em rolos de papiro. A raridade e a quantidade de obras que a biblioteca possuía, renderam-lhe o prestígio de ser a maior biblioteca da antiguidade.

colecionismo de artes
Representação do museu Ennigaldi-Nanna

Mas as coleções vão muito além de obras de arte e livros. Quem nunca teve uma coleçãozinha para chamar de sua? Papéis de carta, tampinhas de refrigerante com personagens, tazos, figurinhas, pôsteres, cartões telefônicos, revistas, cartões-postais, selos, moedas, souvenires de viagens e a lista continua com presença garantida tanto de objetos comuns quanto os mais inusitados. Em um pequeno texto chamado “A paixão de colecionar”, de Moacyr Scliar (pelo menos foi assim que encontrei na internet), o autor nos lembra do Ripley Museum, que contém a coleção de Robert Ripley e atualmente conta com 29 museus ao redor do mundo. “Nascido em 1893, este homem passou a vida percorrendo o mundo em busca do inusitado, que depois apresentava aos leitores de numerosos jornais e revistas sob a forma de uma seção ilustrada que tinha o título de Believe it or not (acredite se quiser)”.

Como nos explica o neurocientista, psicólogo e colecionador Daniel Krawczyk, em seu TED sobre coleções, “o cérebro humano é programado para colecionar coisas”. Maria Isabel R. Lenzi [1] ainda nos informa que:

“Colecionar é uma atividade universalmente difundida. Krzysztof Pomian define coleção como um conjunto de objetos mantidos fora do circuito econômico e guardados sob uma proteção especial, muitas vezes exposto ao olhar público. Lembra também que algumas peças de coleção são fonte de prazer estético, outras permitem a aquisição de conhecimentos e que o fato de possuir uma coleção confere prestígio, pois testemunha o gosto, o refinamento intelectual, ou mesmo a riqueza ou generosidade do colecionador. É a hierarquia social que conduz inevitavelmente ao aparecimento das coleções”.

colecionismo de artes gráficas
Coleção de papéis de carta

Não podemos nos esquecer da sociabilidade que as coleções promovem. Poder conversar e interagir com pessoas que possuem afinidades e interesses semelhantes também é uma das benesses trazidas pelo ato de colecionar. Além, é claro, de maior senso de organização, classificação, facilidade para encontrar padrões e desvios e muita atenção. Outra característica importante é a coleção como uma forma de investimento. Algumas coleções, como exemplo as de moedas ou alguns itens esportivos, podem atingir valores bem altos a depender da raridade e importância histórica.

Colecionismo de artes gráficas
Moedas comemorativas dos jogos Rio2016

Colecionismo de artes gráficas

Dentro das artes gráficas podemos destacar coleções de fanzines, pôsteres e cartazes tipográficos, ou com reproduções de obras de arte, de filmes, de circo e outros espetáculos, coleções de adesivos, ou stickers, cartões-postais, revistas especializadas, calendários, catálogos e brochuras de exposições, marcadores de página, fotos antigas, baralhos, bottons, porta-copos, ímãs de geladeira álbuns de figurinha, livros em pequenas tiragens, lambes e toda a sorte de materiais impressos que a imaginação puder conceber.

colecionismo de artes gráficas
Cartaz vintage de circo

A Risotropical é uma editora e oficina de impressão de São Paulo, com duplicadoras Riso MZ1090 criada em 2016 pelo designer Renan Costa Lima, o site é uma galeria online que vale muito a visita. A risografia ou riso (para os íntimos) pode ser descrita como uma mistura de mimeógrafo e serigrafia. Risograph é o nome da máquina duplicadora/impressora que foi desenvolvida pela empresa japonesa Riso Kagaku Corporation. As peculiaridades de sua impressão, aliada ao fato de ser sustentável, tem atraído cada vez mais artistas que produzem suas obras já pensando nessa saída.

colecionismo de artes gráficas
Loja online Risotropical

Diretamente de Salvador temos a Lambes do Mal, como descrito no site: “desde 2015, na cidade de Salvador, as pessoas são surpreendidas por frases que subvertem a lógica cotidiana propondo outras trilhas para o pensar. Coladas nos muros, postes e viadutos da cidade, utilizando o formato lambe-lambe, as frases da ‘Lambes do Mal’ já fazem parte da paisagem urbana da capital baiana e de outras cidades brasileiras”. O site também é uma loja online e você pode adquirir seus kits de lambes para colar onde bem entender!

colecionismo de artes gráficas
Loja online da Lambes do Mal

O coletivo SHN foi formado em 1998, em Americana/SP. Influenciados pelo legado punk “faça você mesmo” e multidisciplinar, o grupo reúne artistas com atuações diversas como artes gráficas, arquitetura, vídeo e grandes pinturas. A serigrafia foi o ponto de partida gráfico para a pesquisa de mídias apresentada pelo coletivo, que trabalha com ícones universais, (re)significando o conceito de logotipo e marca em uma abordagem bem-humorada e crítica. Além de espalharem sua arte pela cidade, eles produzem uma série de itens colecionáveis: prints, pôsteres, roupas e acessórios, adesivos e etc, todos à venda no site.

colecionismo de artes gráficas
Loja online SHN

Agora dedicaremos uma atenção especial para as gravuras. Para se produzir uma estampa, cria-se uma matriz e a partir dela as cópias em papel são feitas, e as várias técnicas de gravura são nomeadas de acordo com o material utilizado na produção dessa matriz, por exemplo: xilografia (madeira), gravura em metal (metal), litografia (pedra calcária) e serigrafia (tela em nylon ou poliéster). 

As gravuras são peças artesanais – feitas com materiais de qualidade que garantem sua longevidade – que possuem tiragem limitada, são numeradas e assinadas pelos artistas. Elas representam uma excelente opção para colecionadores, tanto os já experientes quanto os iniciantes, além de também serem consideradas um ótimo investimento, pois estão presentes nos portfólios de vários artistas consagrados. Visite o site da Galeria de Gravura para escolher a sua.

colecionismo de artes gráficas
Galeria de Gravura

Cada vez mais artistas têm optado por diversificar a sua produção de maneira a atender a esse público ávido por colecionáveis. São peças acessíveis, disponíveis para um número maior de pessoas e que trazem a essência desses artistas proporcionando uma grande experiência para os colecionadores que, além de poder obter esses itens para as suas coleções, podem aproveitar para caprichar na decoração de seus lares, demonstrando organização, mas sem perder a personalidade. Deixo abaixo algumas sugestões de gallery wall pescadas no Pinterest.

colecionismo de artes gráficas
Gallery wall – Pinterest
colecionismo de artes gráficas
Gallery wall – PInterest
colecionismo de artes gráficas
Gallery wall – Pinterest
colecionismo de artes gráficas
Gallery wall – Pinterest
colecionismo de artes gráficas
Gallery wall – Pinterest

Referências Bibliográficas

[1] LENZI, Maria Isabel R. Coleção Gilberto Ferrez. In: CAVALCANTI, Ana; OLIVEIRA, Emerson Dionisio de; COUTO, Maria de Fátima Morethy; NETO, Maria João; MALTA, Marize (orgs.). Anais eletrônicos do II Encontro do Grupo MODOS/ II Colóquio Internacional Coleções de Arte em Portugal e Brasil: Histórias da arte em coleções – comunicações. Rio de Janeiro: EBA-UFRJ, 2016, p.20-31. Disponível em:

http://www.eba.ufrj.br/index.php/2012-05-25-09-39-48/edicoes-eba